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Sexta-feira, 27 de julho de 2018

Entrevista com Paulo Mors, presidente da ADUFRGS-Sindical

 

Segundo economistas, a 4ª revolução industrial, marcada pela convergência de tecnologias digitais, físicas e biológicas, já está em marcha. Também chamada de 4.0, ela irá mudar radicalmente os processos industriais e o universo do trabalho. Mas não é só a indústria que vai mudar. No Fórum Mundial de Davos, em janeiro deste ano, houve uma antecipação do que os acadêmicos mais entusiastas têm na cabeça quando falam de Revolução 4.0: nanotecnologias, neurotecnologias, robôs, inteligência artificial, biotecnologia, sistemas de armazenamento de energia, drones e impressoras 3D. Alguns pesquisadores advertem que o otimismo não deve ignorar que a tecnologia pode passar por cima de marcos sociais, éticos e políticos, que precisamos para fazer um bom uso dela. Há, também, quem se preocupe com o “darwinismo tecnológico”, que tende a eliminar aqueles que não se adaptam à nova realidade. Implantada em ritmos diferenciados, os seus efeitos podem também aprofundar a desigualdade na distribuição de renda e excluir milhões de seres humanos do mundo do trabalho.

PORTAL ADVERSO - Que impacto a 4ª Revolução Industrial terá sobre a educação?

Paulo Mors - Se já estamos vivendo essa nova Revolução Industrial, então a educação também já está sendo afetada por ela. Mais do que isso, está participando ativamente dessa revolução, sendo protagonista importante de sua construção. E uma das consequências mais evidentes é a maior interação escola-sociedade, em que uma é determinante nas modificações sofridas pela outra, quebrando-se o paradigma de uma escola feita para conformar cidadãos sob encomenda para uma sociedade mais rígida.

PORTAL ADVERSO - É possível prever como será a universidade de um futuro, que, tudo indica, está próximo?

Paulo - Esse futuro já está acontecendo. E um dos grandes desafios para a universidade é a valorização da extensão universitária, a componente menos lembrada do tradicional tripé ensino-pesquisa-extensão. O exemplo mais emblemático dessa intervenção são os tecnopolos criados por consórcios universitários.

PORTAL ADVERSO - O que vai mudar na atividade docente? Os docentes estão preparados para formar profissionais para este novo mundo?

Paulo - O bom professor é aquele que, com competência e empatia, dialoga com o estudante na construção do conhecimento, de forma que ao final ambos saem modificados. Esse personagem, em sintonia com as mudanças sociais, sempre existirá.

PORTAL ADVERSO - Qual o destino dos profissionais que sairão das universidades?

Paulo - Essa pergunta persistirá, sempre foi feita e continuará sendo feita. E a resposta só pode ser uma: se a escola é boa, o produto é bom. Um cidadão formado em uma universidade séria e de qualidade tem muito mais condições de se realizar na construção de uma sociedade melhor. O problema não é qual a Revolução Industrial que está ocorrendo, no momento. Um exemplo do uso nefasto dos recursos tecnológicos é a introdução, sem qualidade, da educação à distância nos currículos de algumas instituições mercantilistas.

PORTAL ADVERSO - A Universidade Pública brasileira, que vem sendo submetida a políticas de forte contingenciamento e desmonte, conseguirá enfrentar os desafios de uma realidade que, segundo especialistas, é diferente de tudo que o ser humano já presenciou?

Paulo - É claro que sim. Não é só a universidade pública brasileira que está sofrendo todo esse ataque. A própria democracia está sendo sucateada. Mas saberemos, mais uma vez, reagir e sobreviver.

 

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